terça-feira, 13 de abril de 2010

O Eu como oponente

«Quando dois oponentes se encontram, aquele que não tem um inimigo triunfará seguramente» - Tao Te Ching, estrofe 69

Qual é o objectivo da "nossa Paz"? Porque devemos conciliar-nos após essa "grande batalha" contra nós mesmos, ainda que várias batalhas se sucedam a várias pazes? (Porque no nosso íntimo haverá sempre lugar a uma batalha). Nesse conflito, teatro de uma guerra fratricida, todos os recursos se esgotarão sem um armistício. O homem em que o conflito interior não é gerido e governado sabiamente, como general-em-chefe de uma nação instável, verá todos os seus nervos esticados partirem-se, depois reconstruídos, hemorragias internas, cicatrizes saradas, ferida em cima de ferida numa cidade arrasada erigida em escombros sem terraplanagem, no que representa a sua beleza moral (anímica) retorcida, o sentido da própria estética desfigurado, e a noção de certo e errado corrompida em golpes falhados. Naquele que tem em si um inimigo, em que os dois de si trocam insultos, acusações e ameaças de vingança, tornar-se-á fácil descobrir o ponto de ruptura, pior ainda, nem sequer será preciso golpeá-lo, pois aí - num espírito que a si mesmo se devora num incêndio ateado por dentro - basta apenas deixá-lo arder e até de empurrão se poderá abater as suas muralhas.
Mas o que é esta Paz? O que é não ter um oponente?

«Quando existe um Eu, também existe um oponente. Se não existe um Eu, é como se num espelho estivesse sendo reflectida a parte boa ou má, a sinceridade e a falsidade daquilo que surge diante dele, até em seus mínimos pensamentos. Não se trata de algo reflectido a partir de um Eu; é unicamente um reflexo daquilo que aparece ali» - Tengu-Geijutsu-Ron, p. 50

Esta limpidez de espelho com o seu claro reflexo é propriamente ser uno, inteiro, cidade em paz.

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