Fides, do latim "fé", "crença", "garantia", "lealdade, "confiança", foi personificada como deusa, e tinha um templo no Palatino. A virtude fides, de onde "fiel" e "fidelidade", é mais do que um conceito moral, e muito mais do que um conceito judaico-cristão, como se vê. É na fides romana que está a origem da garantia do direito romano; é nessa confiança que Roma conquista o mundo conhecido e instaura a sua lei; é nessa garantia de igualdade que se funda o direito de cidadão romano; é nessa lealdade para com os conquistados que Roma se impõe, primeiro pela força, é certo, mas posteriormente, se mantêm, ocupa e reina sobre os vencidos.
Mas fides é mais que uma virtude política, é o núcleo central do psiquismo saudável. Mais do que uma necessidade para a credibilidade dos Estados, a confiança é uma absoluta necessidade para a alma de cada um de nós. Se não tivermos confiança em nós mesmos; se não acreditamos, primeiro que tudo, em nós mesmos e na nossa capacidade de ultrapassar a adversidade, então vamos agarrar-nos a quê? Se, por outro lado, depositamos toda a nossa confiança em outrem, noutra qualquer força fora de nós, o que podemos esperar dessa "cegueira"? Confiança em si próprio (auto-confiança) é uma daquelas virtudes da alma que não se impõe pelo seu atractivo - ela é um "bem essencial" da alma. É nela que se funda a capacidade de sacrifício (e logo a recompensa do sacrifício), e é por ela que nos levantamos uma e outra vez da derrota e nos "obrigamos" a acreditar na nossa vitória. A fé, neste sentido, é-nos indispensável.
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