sexta-feira, 16 de abril de 2010

A verdade na arte: a verdade no artista

A verdade existe? Que verdade? Do ponto de vista da abstracção não faz sentido falar de "a verdade", uma vez que ela é um valor lógico de conformidade entre uma concepção e uma realidade. Mas, que aspecto da realidade? Porque a realidade como um todo dispensa bem qualquer enunciado - ela é. Não se pode dizer que a realidade é verdade; não faz sentido. Então, ou a verdade se refere ao enunciador e ao que ele entende, ou ao enunciado. Neste caso o enunciado pode ser falso e quem o profere ou está enganado, ou pretende enganar. De toda a maneira o ónus da verdade recai sobre o enunciador e, ou o valida, ou o acusa. Assim, a verdade está naquele que a enuncia, e este, para os nossos estudos, é o ponto principal. Deixamos com os juristas a verdade legal, e para os cientistas as provas de facto, que uma só coisa nos interessa, que é: a nossa expressão de verdade, de genuinidade; e fazer dela um assunto pessoal.
Quando falamos de arte, pode parecer que nos referimos a ideias fantasistas e delirantes, pejadas de todas as mentiras e universos ficcionais. E, em parte, assim é. Mas que relação tem a arte com o artista? Ela é uma forma de expressão ilimitada (daí os seus incontáveis artifícios), da sua essência interior. Ela é o veículo de expressão que materializa em letras, cores, sons, o que o artista tem dentro de si e quer mostrar; aquilo que tem para dizer e clama por um "corpo" de expressão tangível. Ora, neste sentido, pode-se facilmente entender que a perfeita identificação entre o que o artista quer dizer (o que sente), e aquilo que ele diz, é a eterna busca de todas as artes. Quando ele transmite com honestidade e genuinidade aquilo que sente, ele alcança a verdade de si para consigo mesmo. É isto que todo o artista faz ou tenta fazer. Se o não consegue, quase sempre não é por não tentar, é porque não domina ainda as suas formas a ponto de que sejam um reflexo perfeito do seu íntimo. Assim sendo, é ele que se julga em si mesmo se alcançou "a verdade" ou não. Esse é o seu trabalho diário e o seu tormento.
E voltando ao início: qualquer tolo pode dizer "a verdade não existe!" Mas o artista sabe que sim e mostra-no-la de todos os ângulos e cores infinitas - todas essas figuras de estilo que servem para no-la explicar. Se nós chegamos lá ou não, é connosco. Ele não pode fazê-lo por nós.

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