terça-feira, 13 de abril de 2010

Quo Vadis? - Onde Vais?

Todos os comportamentos animais têm um objectivo, uma função. Agimos de determinadas maneiras com vista a um fim, e a base dos nossos comportamentos, muito mais biológica que intelectual, impõe umas poucas necessidades que têm de ser servidas. A fome, o sexo, o sono, a sobrevivência em geral, têm uma importância tal nos nossos actos e escolhas, que quase não se consegue entender o que qualquer "jogo" abstracto poderá ter a ver com elas. É claro que poderíamos fazer uma análise sócio-económica de apoio às condições que levam a isso - as condições-base asseguradas. Mas não é tão simples assim, porque em muitos casos elas não estão presentes nem garantidas. Aqui teria de se fazer um outro raciocínio: uma coisa que vem compensar outra, como um substituto sublimador. E é isso, de facto, a arte. O poder de sublimação (da agressividade, por exemplo), da actividade intelectual reside em redireccionar um outro apelo, apaziguando-o e silenciando-o. Desta maneira, aparte as vantagens sócio-económicas (raras) de uma obra comercialmente bem sucedida, o que levará alguém a acreditar e a perder tempo com isso? E contra todas as probabilidades? Um psiquismo deslocado, redireccionado. Não é assim em todos os casos, é certo, mas sim numa imensa maioria. O próprio intelecto (abstraindo-nos, por agora, das funções do corpo), tende a ocupar-se da resolução de problemas concretos e tangíveis, não de meros "jogos" sem finalidade. Como se poderá levar a mal a perseguição generalizada da recompensa do prazer, ou ver nela algo tido por "básico", "primário" ou "instintivo"? Esta é a verdadeira direcção e sentido do nosso "ser-de-barro", nenhuma coisa tem de estranho; ela é a via autêntica, a mais legítima, a mais central, e a primeira de um leque de escolhas; a mais percorrida, a mais apelativa, a mais segura e a mais bem paga. Os "caminhos secundários" que se afastam dela numa rota periférica e divergente - estas palavras incluídas - caem na categoria de psiquismo deslocado - radiais, pior, caminhos de terra batida em que facilmente nos perdemos e, sozinhos, não encontramos lugar para descansar.

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