quinta-feira, 1 de abril de 2010

O simbolismo do sacrifício

Abrir mão de coisas boas para alcançar coisas melhores não é para muitos, mas quase todos já o fizemos. Chama-se a isso "sacrifício".
A etimologia de sacrifício é sacer (a mesma de "sagrado"), não admira, portanto, que o sacrifício esteja tão vinculado às práticas religiosas de todos os tempos e lugares. Desde os judeus aos Maias praticaram-se sacrifícios (principalmente animais), como forma de agradar aos deuses, de lhes aplacar a ira, ou de pagar um favor recebido. Se pensarmos bem, ainda hoje o fazemos. Mas o que é o sacrifício? É quando abdicamos de uma coisa valiosa (e que nos custa perder), em nome de uma outra coisa ainda mais valiosa. Quem nunca ouviu contar a história dos 300 espartanos das Termópilas? Todos morreram naquele desfiladeiro para atrasar o avanço dos persas e dar tempo aos gregos de se defenderem. Isto é sacrifício.
Em que medida (colocando agora de lado o sagrado), fazemos nós isto nas nossas vidas? É precisamente quando, dominando um impulso de satisfação imediata de um desejo (comprar algo, por exemplo), nos negamos a nós próprios essa satisfação com o intuito de alcançarmos algo maior. Isto é investir. Requer disciplina, requer fé (na medida em que trocamos uma coisa garantida por outra incerta), e requer inteligência. Todo o investimento é diferido e tudo o que é diferido requer calma, confiança e auto-domínio. O investidor financeiro que aplica o seu dinheiro em acções, pretende trocá-lo (mais tarde e com um grau de incerteza), por várias vezes mais.
Nas sociedades antigas os sacrifícios à divindade eram, muitas vezes, de sangue, e esse é, afinal, todo o edifício do cristianismo. Muito embora o sangue como moeda de troca nos choque, a nós, hoje, o simbolismo do sacrifício é igual. Nesse tempo, como agora, o sacrifício era algo difícil de pagar e cumprir, na medida em que custa e é quase insano perder, abrir mão, abdicar, de uma coisa valiosa. Só um homem com "mão" em si mesmo é capaz de grandes sacrifícios. Só quem tem um horizonte largo de visão consegue ter a capacidade de esperar o fruto de um sacrifício. E geralmente ele chega, cedo ou tarde. Nem é preciso citar livros: quem semeia acaba por colher, pois é da justiça das causas e dos efeitos que assim aconteça. Causa-efeito.
NOTA: para se ter uma ideia clara do valor do sacrifício dos impulsos consultar "Inteligência Emocional", Daniel Goleman: 2ª parte, A Aptidão-Mestra, Controlo dos Impulsos: o Teste do Rebuçado.

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