segunda-feira, 31 de maio de 2010

Convite à voz dos leitores

Este blog tem, ao que parece, muitos leitores assíduos, e é para estes leitores que ele existe. Ora, para mim, enquanto autor, é bastante importante saber o que os meus leitores pensam daquilo que aqui é escrito; e daquilo que mais, ou menos, cativou as vossas mentes.
Todas as opiniões e comentários são bem-vindos e lidos com muita atenção, no sentido de "calibrar" o blog ou, talvez, continuar no mesmo rumo. Não há comentários certos ou errados, bem ou mal escritos - todos são bem-vindos. Participem. Um abraço a todos.
João Adriano Pereira.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Confissão

O meu único afecto genuinamente intenso são as capacidades conscientes. Nada se lhe pode comparar. Não há metafísica nenhuma, nem nenhuma outra transcendência, seja do espírito ou da carne, que em tempo algum eu preferisse às capacidades conscientes. Nunca sentiria verdadeira afeição por todo o poder do mundo (se o tivesse), se não pudesse explicar como lá chegara. Nunca seria feliz com todo o prazer deste mundo, se não pudesse dar conta de como o merecera. Jamais escolheria governar a Terra (se mo fosse dado) se não conseguisse explicar que percurso, ou por que mérito tal me era dado.
Por outro lado, quaisquer conquistas, por pequenas que sejam, que a todo o momento as possa explicar, são as medalhas que trago ao peito, cada qual merecida, cada qual com uma história que pode ser contada e compreendida. Se Deus, no Dia do Juízo me quisesse no Céu por misericórdia, não teria eu nisso senão um Inferno. Se Ele dissesse que me aceitava por mera generosidade e sem outra explicação, não teria nisso prazer nenhum. Seria constantemente assaltado pela dúvida da legitimidade, do sentido. "Foi sorte", diriam. "Mas que tenho eu a ver com sorte? Eu que só tenho a ver com consciência?"

"It is a kingdom of conscience, or nothing" -
Balian of Ibelin, em "Reino dos Céus" de Ridley Scott

sábado, 22 de maio de 2010

Escrutinando a moral como opção

O mainstream do bom-senso é comummente ancorado numa certa ideia de bem ou correcção moral. Mas o que me apetece dizer aqui é que, de todos esses "sábios" conselhos pouca coisa é realmente bem compreendida. Torna-se, efectivamente, um lugar-comum dizer-se "não faças isto ou aquilo", "não é por aí", "não faças disparates", tendo como pano de fundo um bem que se esgota quase inteiramente nessa fórmula.
Poder-se-ia dizer que o medo inerente à consequência de uma má acção justifica que esta não seja feita. Isto está certo, mas até que ponto é que não se trata de um mal menor, em vez de uma escolha positiva? Por detrás do que é dito está antes "não escolhas o mal" e não "escolhe o bem". Se, de facto, as consequências de um conselho destes fossem bem compreendidas em toda a sua extensão haveria algumas (muitas) advertências a fazer. A escolha do caminho do bem, da acção moralmente correcta ou construtiva, comporta uma tão grande angústia como esse Inferno de castigos que prometem aos maus. Que mal pode haver, por outro lado, num prazer imediato (isto para ver o assunto de todos os ângulos)? Talvez cometer uma acção destrutiva por um impulso irresistível confira um momentâneo, rápido e imediato alívio, mas quem pode assegurar que não há nisto um bem? No caso da acção compassiva, paciente, abstinente do mal em geral, que não é mais do que um Inferno duradouro e extenso, quem se atreveria a dizer que um excelente (e duvidoso) prémio imediatamente após nos redimiria de todo esse enorme sofrimento? Não pretendo aqui fazer a defesa de um nem de outro, mas apenas questionar esses dados adquiridos e alertar contra aquilo que seja, verdadeiramente, uma opção.

O primeiro absinto da manhã

Cada vez acredito menos em acreditar e vejo uma virtude inestimável em desesperar, pois permite a mudança, a transfiguração, a metamorfose. Se é para melhor não sei - ou melhor, duvido que seja - mas esta treta de se acreditar no Pai Natal já começa a cansar. É imperativo que se levante a necessidade de algum realismo, por pior que ele seja, e de mandar às favas todo o idealismo, por muito bom e belo que possa ser.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Há com cada coisa...


Quod dixit, dixit

O que é que eu ando aqui a fazer??? Caralhos me fodam se eu sei o que é que ando aqui a fazer!!!

"Awake
Shake dreams from your hair
My pretty child, my sweet one.
Choose the day and choose the sign of your day
The day's divinity
First thing you see.

A vast radiant beach in a cool jeweled moon
Couples naked race down by its quite side
And we laugh like soft, mad children
Smug in the wooly cotton brains of infancy.
The music and voices are all around us"

The Doors, Awake

Life Disorder

"By ignoring the environmental factors the psychiatric profession gives itself complete job security by diagnosing life as a mental illness. The only people who will not qualify for a disorder are those who are dead" - Joseph Arpaia, MD

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Caos e o "Outro"

«como Freud salientou, os dois tiranos que lutavam pelo controle da mente eram o "Inconsciente" e o "Superego", o primeiro ao serviço dos genes, o segundo, um lacaio da sociedade - ambos representando o "Outro". Em antagonismo estava o Eu, defensor das necessidades genuínas do ser inerentes ao seu ambiente concreto» - Csikszentmihalyi, Fluir

Quando falamos em enfrentar-nos, desafiar-nos, vencermo-nos, talvez seja esta a principal ideia a reter, aquela a que Freud se referiu como o "Outro", termo que não indica uma força externa, mas uma "entidade compósita" da nossa psique. Este é o inimigo; é aquele de nós mesmos que tem de ser vencido. Cabe-nos a nós (identificando-nos, primeiro que tudo, com uma determinada instância de soberania), regulá-lo, controlá-lo, enfraquecê-lo, calá-lo, eliminá-lo. "Ele" surge com mil faces e mil formas de nos arrastar à entropia psíquica, à derrota da desordem interior. Teremos de vencê-lo uma e outra vez - de nós para nós, dentro de nós, connosco mesmos. Se a instância soberana é derrotada, o Caos avança e toma o poder.

«A "batalha" não é realmente contra o eu mas contra a entropia psíquica que provoca desordem na consciência. É efectivamente uma batalha a favor do eu» - Csikszentmihalyi, Fluir