terça-feira, 22 de junho de 2010

Virtus Omnia Vincit

Virtus omnia vincit - a virtude vence tudo.
Existem duas vias para as coisas nos sucederem na vida: por virtude e por sorte (melhor dizendo, acaso). Quando não nos é possível explicar, dar conta, de como algo nos aconteceu; quando, contrariando a lei de causa-efeito, colhemos algo (de bom ou mau) que não houvéramos semeado, estamos sob o signo da fortuna. Muitas coisas sucedem deste modo, o que, considerando o todo do género humano, costuma ser regra geral. Mas existe um modo diverso deste em que é o homem que faz a hora (virtude) e não a hora que faz o homem (fortuna). Maquiavel abordou suficientemente estes dois conceitos ao longo de "O Príncipe":

«admito que seja verdade que a fortuna possa ser determinante de metade das vossas acções, mas que, ainda assim, deixa, a cada um de nós, a possibilidade de decidir sobre a outra metade, ou muito perto disso» - cap. XXV
«um príncipe que se apoia exclusivamente na fortuna está sujeito à ruína, conforme ela varia» - cap. XXV
«as formas de defesa só são boas, fiáveis e duradouras quando dependem de vós e da vossa virtude» - cap. XXIV

Tal como na cultura romana, Maquiavel referia-se à virtú não na acepção de moralidade (de cunho marcadamente judaico-cristão), mas como capacidade adquirida, desenvolvida e cultivada por alguém, capacidade essa que permitia intervir no decurso da vida humana (pessoal, social, histórica), moldando o seu rumo por forma a construir os acontecimentos dela e não a ser seu objecto passivo e inerte. Alguém que detenha essa virtú é alguém que controla (até onde lhe é dado) o seu "destino"; é alguém que começa por aceitar a sua responsabilidade nele; e, o que é mais, alguém que escolhe conscientemente ter um papel interventivo e activo nos acontecimentos. Isto apela, antes de tudo, à consciência. Quando algo é feito conscientemente, acontece como previsto.

«Golpear com precisão não é o mesmo que acertar um golpe. Seja qual for o tipo de ataque, a pessoa deve antes determinar como será o golpe e depois executá-lo exactamente como planeou. Por outro lado, acertar um golpe não é nada mais do que isso, mesmo que ele seja forte o bastante para matar o adversário. Golpear com precisão significa definir mentalmente o golpe que se irá aplicar e colocá-lo em prática assim como foi planeado» - Miyamoto Musashi, O Livro dos Cinco Anéis

Isto significa apenas uma consciência clara de que uma acção se deveu unicamente ao nosso esforço. A virtude é a capacidade eminente de dar conta de como fizémos algo; algo que aconteceu sem nenhuma intervenção do acaso. Virtude na nossa acepção tem a sua origem no espanto original por alguma coisa feita, não no "acerto" conforme a um Bem ideal.
"Virtus Omnia Vincit" quer dizer: as capacidades superam as dificuldades; o esforço consciente acaba sempre por, mais tarde ou mais cedo, sobrepujar todos os impedimentos; a dedicação persistente e empenhada (um alerta para a dimensão "tempo" aqui referida), vence tudo. "Tudo é possível ao que crê" surge, indubitavelmente, nesta linha. "A virtude vence tudo" é um apelo e uma promessa: torna-te capaz; enche-te de capacidade, e os obstáculos cairão. Cultiva o teu espírito; torna-te forte; aperfeiçoa-te, e não serás vencido. Mantém-te firme e nada te dominará para sempre: a vitória chegará sem dúvida.

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