quinta-feira, 17 de junho de 2010

A lei do leão - Quem é "o outro"?

Qual é o maior inimigo do leão? Excepção feita ao homem, o leão não tem predadores - na savana ninguém ataca o leão. Então, qual é o maior (e o único) inimigo do leão? Na hierarquia social dos leões o primeiro animal a alimentar-se do que é caçado pela leoa é o macho alfa, o macho dominante, o mais forte dos jovens machos. A presa é, assim, distribuída hierarquicamente do mais forte para o mais fraco. No fim ficam os animais mais debilitados, sem acesso à comida. Está, portanto, respondida a nossa questão inicial: o leão morre de fome quando é chegada a sua velhice, a sua incapacidade de chegar suficientemente perto do topo da hierarquia para se poder alimentar. Quem é, então, o seu maior inimigo? Os outros leões? Sim, de certa maneira, mas não exactamente, porque a situação de inferioridade em que o velho leão se encontra é aquela a que ele próprio, um dia, relegou outros leões do seu grupo na altura em que, sendo mais forte, não tinha problemas de acesso à comida. Portanto, pode dizer-se com muito acerto que o maior inimigo do leão não é outro leão, mas sim ele próprio, ou mais correctamente, a sua "política" pessoal (se tal expressão se pudesse aplicar a um ser irracional), a que ele não se pode eximir pois não tem, como o homem, a faculdade de proceder de outro modo. Isto sim, pode ser considerado um fatalismo: é da constituição íntima, genética, do leão e ele não pode contrariá-la. O maior inimigo do leão é ele próprio.
Quanto ao homem passa-se (salvaguardadas as devidas distâncias) algo de semelhante. Realmente costuma ser a nossa "política" de vida, os princípios que nos regem, aquilo em que acreditamos, a maneira como tratamos os outros, que acabam por ser nossos carrascos e, em boa ou má hora, voltar-se contra nós mesmos. No que toca ao ser humano não podemos dizer que tal é lei (pois admite excepções), mas é, isso sim, regra geral. Quando o ditado diz "quem pela espada mata, pela espada morre", é enunciada uma regra baseada no bom-senso e do domínio das probabilidades (não será, também, provável, que um ferreiro queime os dedos?). Tal como disse, no que toca ao homem, isto não constitui lei mas, também para o nosso caso, a lição dos leões é muitíssimo válida. Consoante os nossos valores, assim agimos; consoante agimos, assim colhemos. Verdadeiramente tudo começa no nosso íntimo, e essa típica analogia de que o "Universo" espelha o nosso mundo interior não pode ser facilmente descartada, mas antes, bem entendida. O nosso mundo interior é aquilo em que acreditamos, são os nossos valores, as coisas com que nos identificamos. Tudo começa aí. O que recebemos acaba por ser a "frutificação" disso. Sementeira-colheita. Causa-efeito. O que não devemos é julgar que o processo começa nos actos: o acto é já um efeito do mais íntimo. O íntimo é o legislador do que colhemos a todo o instante. Se vivermos pela lei do leão, estamos sob a lei do leão. Se vivermos pela lei do amor, estamos sob a lei do amor. Quem será melhor juiz? Sob que lei queremos viver? Que valores queremos criar em nós? Cada um decida por si mesmo.

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