terça-feira, 30 de março de 2010

Acerca do "arquitecto"

"Apanhei-te arquitecto, nunca mais tornarás a construir-me" (Buda ao atingir o Nirvana). Que quer isto dizer? Talvez: "Alcancei-te sabedoria. Já não guardas mistérios para mim". É uma hipótese. Mas a ideia expressa em "arquitecto" é digna de destaque. Ao que parece os maçons chamam ao "Ser Supremo" (Deus?), arquitecto (Grande Arquitecto do Universo). Referem-se à sabedoria? Parece que sim, e a ideia não é propriamente nova. Já em Provérbios, ao descrever a origem da sabedoria como remontando ao início dos tempos, antes de Deus ter sequer criado o Universo, dizia Salomão: "Então [no princípio do Universo] eu [a sabedoria] estava com ele, e era seu arquitecto" (Provérbios 8:30).
Detectada a equivalência arquitecto/ sabedoria, não quero, nem posso, ir mais além para tirar outras ilações, quem sabe ilegítimas. Por isso quero apenas firmar âncora em "sabedoria". Algumas outras citações de Provérbios:
«O que adquire sabedoria ama a sua própria alma» (Pv. 19:8)
«O que me acha [à sabedoria] acha a vida» (Pv. 8:35)
«Eu, a sabedoria, habito com a prudência» (Pv. 8:12)
«[a sabedoria] é árvore de vida para os que a abraçam» (Pv. 3:18)
«Ele [o Senhor] reserva a verdadeira sabedoria para os rectos» (Pv. 2:7)
«A sabedoria é suprema; portanto, adquire a sabedoria. Sim, com tudo o que possuis adquire o entendimento» (Pv. 4:7)
Por fim, para desenjoar a fonte e lançar um pouco de luz, Tao Te Ching:
«Aquele que conhece os outros possui conhecimento; aquele que se conhece a si próprio possui sabedoria» (estrofe 33)
Então, sabedoria será conhecer-se a si mesmo? É disso que nos fala Salomão? Provavelmente. Conhecer tudo o que há no mundo seria um inútil acumular de conhecimentos, podemos constatar isso nos dias de hoje. O Homem, com toda a informação de que dispõe, facilmente fica submerso num oceano de informação (só a televisão e a internet chegam para fazer este trabalho). Há (ou pode haver) uma perda de referencial no universo do conhecimento. Mas o referencial não se pode perder; a alma tem horror ao vazio. Então, quem nos pode valer neste caso? as emoções, aquilo que nos faz sentir humanos, seguros em "território conhecido".   O problema é que as emoções podem facilmente tiranizar-nos; facilmente ficamos escravos das emoções, pois não vislumbramos mais nada, nem nenhuma outra coisa tão agradável e recompensadora. Então, adquirida a consciência da escravidão, qual pode ser a saída? conhecermo-nos a nós mesmos, dominarmo-nos a nós mesmos, vencermo-nos a nós mesmos - adquirir a sabedoria.

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