segunda-feira, 24 de maio de 2010

Confissão

O meu único afecto genuinamente intenso são as capacidades conscientes. Nada se lhe pode comparar. Não há metafísica nenhuma, nem nenhuma outra transcendência, seja do espírito ou da carne, que em tempo algum eu preferisse às capacidades conscientes. Nunca sentiria verdadeira afeição por todo o poder do mundo (se o tivesse), se não pudesse explicar como lá chegara. Nunca seria feliz com todo o prazer deste mundo, se não pudesse dar conta de como o merecera. Jamais escolheria governar a Terra (se mo fosse dado) se não conseguisse explicar que percurso, ou por que mérito tal me era dado.
Por outro lado, quaisquer conquistas, por pequenas que sejam, que a todo o momento as possa explicar, são as medalhas que trago ao peito, cada qual merecida, cada qual com uma história que pode ser contada e compreendida. Se Deus, no Dia do Juízo me quisesse no Céu por misericórdia, não teria eu nisso senão um Inferno. Se Ele dissesse que me aceitava por mera generosidade e sem outra explicação, não teria nisso prazer nenhum. Seria constantemente assaltado pela dúvida da legitimidade, do sentido. "Foi sorte", diriam. "Mas que tenho eu a ver com sorte? Eu que só tenho a ver com consciência?"

"It is a kingdom of conscience, or nothing" -
Balian of Ibelin, em "Reino dos Céus" de Ridley Scott

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